Abusividade da correção monetária não impede negativação por dívida, diz STJ
A abusividade do índice aplicado na correção monetária devido não impede o reconhecimento da dívida e a consequente inscrição do nome do devedor no cadastro de inadimplentes. Com esse entendimento, a 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça afastou condenação por danos morais de incorporadora por conta de saldo de devedor do comprador de um apartamento.
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No caso em julgamento, os autores celebraram contrato de promessa de compra e venda por um apartamento, cuja parcela devida por ocasião da entrega das chaves, prevista contratualmente, era de R$ 129.585. Houve atraso de dois meses para além do prazo de tolerância para a expedição do Habite-se.
Quando pôde receber a unidade, os compradores não haviam ainda pagado a totalidade da parcela, que teve valor atualizado pelo índice setorial (Índice Nacional de Custo da Construção) inclusive durante os meses de atraso da obra.
Como não chegaram a um acordo, a incorporadora não entregou a chave e
negativou o nome dos devedores. Por isso, os compradores ajuizaram ação
de indenização, na qual o juízo de origem reconheceu que o índice usado
para corrigir o valor nominal do saldo devedor era abusivo.
"A abusividade da correção monetária não é suficiente para descaracterizar a mora do consumidor, ao qual caberia pagar, ao menos, o valor nominal do saldo devedor", apontou o relator, ministro Paulo de Tarso Sanseverino. "Assim, não há abusividade na inscrição dos compradores no cadastro de inadimplentes, nem a recusa na entrega das chaves da unidade."
Teses e jurisprudência
Para chegar a essa conclusão, o ministro se baseou em jurisprudência da
corte e na aplicação por analogia de duas teses definidas em julgamento
de recursos repetitivos pelo STJ.
A primeira (Tema 28), referente
a contratos bancários, indica que a abusividade que conduz à
descaracterização da mora é aquela verificada nos juros remuneratórios
ou na capitalização. Não se aplica, portanto, em casos de correção
monetária, como descrito nos autos.
A segunda (Tema 972), sobre
tarifa de gravame eletrônico, diz que a abusividade de encargos
acessórios (do qual é exemplo a correção monetária) não descaracteriza a
mora.
"A bem da verdade, as únicas ilicitudes que se vislumbra no
proceder da incorporadora foram o atraso de dois meses na obtenção do
"Habite-se", a atualização monetária pelo INCC durante esse período e a
demora na outorga da escritura. Essas condutas, embora ilícitas, têm
sido compreendidas pela atual jurisprudência desta Corte Superior como
inaptas a produzir dano moral, pois seus efeitos não extrapolam o âmbito
contratual", concluiu o relator.
Ou seja, a cobrança extra por conta da cobrança abusiva do INCC não autoriza os compradores a pagar menos do que o mínimo pactuado. E como a entrega das chaves estava condicionada a esse pagamento, não há abusividade na conduta da incorporadora. "Com base nesses fundamentos, é de se excluir, também, a condenação da incorporadora ao pagamento de indenização por lucros cessantes", acrescentou o relator.
Fonte: ConJur